Em cinco anos, o Brasil caiu 37 posições no ranking dos países mais solidários do mundo. Mesmo com a elevação de renda da população nesse período, as doações, o trabalho voluntário e a ajuda a estranhos diminuiu, diferentemente do que aconteceu nos outros 135 países pesquisados.
A´pesquisa "World Giving Index 2013 - Uma visão global das tendências de doação" é elaborada pela instituição britânica sem fins lucrativos CAF (Charities Aid Foundation) e foi divulgada na semana passada, na qual se comemorou o Dia Mundial da Doação, no Brasil, pelo Idis (Instituto do Investimento Social).
O estudo é considerado o mais abrangente do mundo no que se diz respeito à solidariedade. Foram ouvidas 155 mil pessoas, sendo as entrevistas feitas pessoalmente e por telefone. "Eles fazem três perguntas: no último mês você doou para instituições sem fins lucrativos; ajudou desconhecidos e praticou alguma atividade de voluntariado", explica a diretora-executiva do Idis, Paula Fabiani.
No último ano, o Brasil caiu oito posições no ranking da solidariedade. "Mas, nos últimos cinco, foram 37. É uma queda muito expressiva", constata Fabiani.
Dentro das três questões abordadas na pesquisa, a que mais caiu foi a ajuda a estranhos, de 51% para 42%. "A melhoria de renda da população pode ter levado à percepção que não é tão importante a ajuda ao próximo", diz.
"Se colocarmos isso [aumento de renda] para outros países, não faz sentido. Existem outros fatores que intervêm para a posição", argumenta o secretário-geral do Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Emoresas), Andre Degenszajn.
Para ele, a situação econômica, a tradição e as crises humanitárias podem ser os fatores para o aumento da solidariedade. "Mas, se o país tiver uma base comunitária forte, pode ser o da redução", conta.
Na América do Sul, o Brasil é a nação menos generosa, última da lista, ao lado da Venezuela, ambos com 26% da população afirmando que exerce algum tipo de solidariedade. Em primeiro lugar está Colômbia, com 41%.
A riqueza do país não está necessariamente associada a solidariedade e doações. "A questão da doação é mais fomentada nos outros países, faz parte da cultura", explica Fabiani.
Em dados gerais de 2013, 42% dos brasileiros afirmaram ter ajudado um estranho no mês anterior, 23% disseram ter feito alguma doação, e 13% algum tipo de trabalho voluntário.
"No Brasil existe muita do
ação, mas elas tendem a ser dentro de uma mesma comunidade, como de grupos religiosos e menos em questões sociais, como a ambiental, por exemplo", pontua Degenszajn. "Pessoas de baixa renda doam mais que os ricos, em proporção ao seu rendimento", completa.
ação, mas elas tendem a ser dentro de uma mesma comunidade, como de grupos religiosos e menos em questões sociais, como a ambiental, por exemplo", pontua Degenszajn. "Pessoas de baixa renda doam mais que os ricos, em proporção ao seu rendimento", completa.
A pesquisa também traz uma série de recomendações para os governos incentivarem à população a ser mais solidária. Para isso, é necessário: certificar organizações não-lucrativas e que sejam reguladas; oferecer incentivos; tornar mais fácil que pessoa física faça doações; garantir que as organizações possam informar o público sobre seu trabalho; e incentivar a caridade como forma de desenvolver a economia, aproveitando a classe média, entre outros.
"Esses países [os mais solidários] têm na história a presença de incentivos fiscais para ajudar. Não vejo isso no Brasil, faltam incentivos fiscais para pessoas físicas", opina a diretora-executiva do Idis.
Degenszajn afirma que, no Brasil, diferente mente dos Estados Unidos, primeiro do ranking, faltam mecanismo e mobilização das organizações para captarem recursos.
Já para CEO da Sitawi - Finanças do Bem, organização sem fins lucrativos que opera soluções financeiras inovadoras para impacto socioambiental, incluindo empréstimos sociais e gestão de fundos, Leonardo Letelier, as leis e a falta de confiança nas organizações explicam a queda brasileira.
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Mas o fato real é a cultura do brasileiro, porque na nossa frente existem países em diferentes condições socioeconômicas, como o Haiti."
Se considerado o número absoluto da população, o Brasil, que é o quinto país mais populoso do mundo, com mais de 190 milhões de habitantes, está entre os dez primeiros em todos os quesitos.
São 63 milhões de pessoas que ajudaram estranhos (quinto maior contingente do mundo), 34 milhões que doaram dinheiro (oitavo maior), e 34 milhões de voluntários (nono).
Apesar da pouca diferença, as mulheres são mais solidárias que os homens. Em 2008, eles estavam à frente, com 31%, enquanto elas apareciam com 30%. Agora, as mulheres aparecem com 28,7%, e os homens, com 27,8%.
Os jovens são outro destaque do ranking, representam 20,6% da população voluntária do mundo. "Pode ser uma geração que está vindo com uma cabeça de maior participação de engajamento", afirma a diretora-executiva do Idis.
"Há uma séria de elementos que dá para acreditar que é uma geração brasileira mais ligada a causas sociais e que está buscando mais aproximação do que acredita com a atuação profissional", diz Degenszajn.
Os Estados Unidos é o país mais solidário do mundo, encabeçando a lista de ajuda a estranhos (77%), seguido do Qatar (73%) e da Líbia (72%).
Já no quesito doação de dinheiro, o asiático Mianmar tem 85% da população, seguido pelo Reino Unido, com 76%, e de Malta, com 72%.
Os países onde mais se pratica ações voluntárias no mundo são o Turquemenistão (57%), o Sri Lanka (46%) e os Estados Unidos (45%).
Fabiani e Degenszajn apontam que os países que tendem a estar na ponta do ranking têm em comum algo: são de tradição anglo-saxônica.
"A iniciativa tem que partir de nós mesmos, não podemos esperar que o outro lado faça primeiro. Isso não constrói um mundo melhor", diz Letelier.fonte Folha de SP/imagens google
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