quarta-feira, 25 de junho de 2014
Carlos Castello Branco, o repórter do Brasil Texto de Zózimo Tavares(hoje faria 94 anos)
Durante mais de meio século, ele foi o repórter político do Brasil. Um repórter que soube interpretar o país, na agonia de duas ditaduras e na esperança de duas redemocratizações; no suicídio de um presidente da República (Getúlio Vargas), na renúncia de outro (Jânio Quadros), na deposição de mais um (João Goulart) pelas armas e no impeachment de outro (Fernando Collor) pelas armações. Foi também jornalista de três Constituições, a de 1946, a de 1967 e a de 1988. Exerceu a profissão ao longo dos mandatos de 13 presidentes da República e durante 31 anos redigiu a famosa Coluna do Castello, no Jornal do Brasil.
Eis um perfil breve e fugaz daquele que foi maior, o mais importante e o mais influente colunista político do Brasil na segunda metade do século 20, o jornalista Carlos Castello Branco, o Dr. Castello do trato mais formal ou o Castelinho, para os mais íntimos. Nascido em Teresina, em 25 de junho de 1920, ele estaria completando hoje 90 anos. Durante mais de 30 anos, escreveu a coluna política mais lida do país, que só deixou de ser publicada durante sua prisão pela ditadura militar, em entre 14 a 31 de dezembro de 1968, e com sua morte, em 1º de junho de 1993.
Filho do desembargador Cristino Castelo Branco e Dulcila Santanna Castello Branco, Carlos Castello Branco viveu a infância e adolescência em Teresina, desde seu nascimento até 1937. Estudou no Grupo escolar Teodoro Pacheco e no Liceu Piauiense. Com o jornalismo no sangue, fundou, aos 14 anos, em Teresina, o jornal A Mocidade, editado pelos alunos do Liceu, entre os quais se destacavam outro piauiense que ganharia renome nacional, Abdias Silva, e o maranhense Neiva Moreira, editor da revista Cadernos do Terceiro Mundo.
O jornal da juventude, com proposta literária, anteciparia o sucesso do ficcionista de Continhos Brasileiros (1952 ) e Arco de Triunfo (1959), romance de costumes políticos que mereceu a admiração de Manoel Bandeira.
A "Coluna do Castello"
Em 75 linhas de 72 toques, estampada diariamente na página 2 do JB e mais 30 jornais brasileiros, a "Coluna do Castello" era a consciência do país. O estilo elegante ele o extraiu dos textos de Machado de Assis, sua leitura diária. O jornalista não batia perna atrás de notícia. As informações chegavam até ele. Ouvia muito e falava pouco, para apresentar ao leitor o sumo da política.
"Quem sabe das coisas, percebe que há muita garimpagem naquelas linhas, escritas em meia hora. Quem não sabe, acaba constatando, alguns dias depois, que a coluna havia antecipado uma tendência ou uma decisão do governo. Foi assim em 68, pouco antes do AI-5. Foi assim em 61, antes do parlamentarismo, quando já previa o desastre de 64. E foi assim em janeiro de 1985, quando anteviu que Tancredo não completaria seu mandato", escreveu o jornalista Paulo Markun, ao traçar seu perfil para a revista Imprensa de setembro de 1987.
Nos últimos anos de sua vida, trocou os porres homéricos de Black Label por tormentosas sessões de radioterapia, para colocar sob controle um câncer na boca que acabou por vencê-lo.
"Teresina apagou-se na distância"
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