sexta-feira, 13 de junho de 2008

REGINA – A HISTÓRIA NÃO OFICIAL II


À Comissão de Anistia Política do Ministério da Justiça
Eu, Ernani Eduardo Pacheco Henning, solteiro, identidade número ***.***-SSP/DF, CPF número ***.***.***-**, Técnico de Comunicação Social da Imprensa Nacional, desde 1990, registrado na Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais - FENAJ, declaro para os devidos fins que conheci Regina Célia Bittencourt em 1963, quando mudei com minha família para Brasília. Meu pai, já falecido, Coronel Hernani Azevedo Henning, era militar e tinha servido no Exército com o pai de Regina, Coronel Marcolino Castelo Branco Bittencourt, que morava com sua família na mesma quadra que habitávamos na W3 Sul, quadra 707.Em 1975, dei carona a um colega amazonense, em comum, na Universidade de Brasília-UnB, chamado Moss, até a residência de Regina, onde iria revelar umas fotos no pequeno laboratório que ela havia montado em sua residência, na Sqs 413. Após dois dias, recebi um telefonema de outro colega chamado Wilton peguntando sobre o Moss, que estava desaparecido havia dois dias e que eu teria sido a última pessoa a ter contato com ele.Fiquei preocupado e resolvi ir à casa de Regina para saber notícias do Moss, na SQS 413, em um bloco que não me recordo, num apartamento localizado no andar térreo. Lá chegando, notei a persiana semi-aberta e vi, pela janela, que Regina estava deitada próxima à mesma, sobre umas almofadas parecendo estar dormindo. Quando toquei a campainha, um agente abriu a porta e recepcionou-me com ameaças, ironia, afirmando “só faltava você, neste momento”. Percebi que o apartamento estava todo revirado por mais cinco agentes que lá se encontravam. Regina, aos prantos, imediatamente falou que eu não tinha nada a ver com o que estava acontecendo e que eu era filho de militar, amigo de seu pai. Fizeram-me inúmeras perguntas, querendo saber o que fui fazer naquele local. Felizmente, tinha um negativo comigo e falei que iria revelá-lo em seu laboratório. Perguntei à Regina se seu pai, Cel. Marcolino, estava ciente do que estava acontecendo. Ela respondeu-me que não. Disse, então, que iria pedir ao meu pai que o avisasse. Até hoje não sei como consegui sair de lá e como nada aconteceu comigo posteriormente. Acredito que o agente associou meu sobrenome ao do meu tio Almirante Geraldo Azevedo Henning, que ocupava na época o cargo de Ministro de Estado da Marinha. Mesmo assim, um agente acompanhou-me até meu carro e anotou a placa. Meu pai avisou ao Coronel Marclino o que havia acontecido e, mais tarde, o mesmo localizou sua filha presa em um recinto do Departamento de Ordem Política e Social – DOPS. Sei que este fato acarretou maléficas consequências à Regina, que ficou por muito tempo abalada e traumatizada, com profundas marcas que prejudicaram seus estudos na UnB e no Centro de Ensino Unificado de Brasília-CEUB, à época, e atualmente designado como Centro Universitário de Brasília-UniCEUB, bem como, na Câmara dos Deputados, onde trabalhava. Sei que levou muito tempo para alcançar sua recuperação mental e física tão fragilizada, não sabendo dizer se ainda hoje conseguiu recuperar-se totalmente daquilo tudo que ficou gravado em sua consciência e sua subconsciência.Ciente desses fatos tão marcantes e injustos e vivendo, atualmente, num estado democrático de Direito, sinto-me na obrigação de relatá-los para que sejam analisados e possibilitem uma nova situação, da qual Regina possa recuperar-se moral e profissionalmente, deixando para trás essas profundas seqüelas tão marcantes ocorridas no transcorrer de sua vida.Dou fé que esses fatos declarados expressam a mais pura verdade.
Brasília, 05 de março de 2008.
Ernani Eduardo Pacheco Henning
DECLARAÇÃO
Declaro, para os devidos fins, e em especial para fins de prova junto à Primeira Câmara da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, que, de há muito, conheço Regina Célia David Sanson e afirmo que sua exoneração da Câmara dos Deputados, sacramentada em Janeiro de 1975, significa a culminância de processo existencial conflitivo, perturbador e aterrorizador que teve seu início com sua prisão em meados de 1973 pelas forças de repressão.

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