sábado, 19 de outubro de 2013

A importância de Vinicius de Moraes no cenário da MPB


Em homenagem ao centenário de Vinicius de Moraes celebrado neste sábado, 19, reprodução da crônica do escritor e pesquisador Zuza Homem de Mello, publicada com exclusividade  Opinião e Notícia em outubro de 2007.

"Não é raro que jovens de minha geração – classe de 1933 – ousassem atingir o coração de suas namoradas valendo-se de versos de Vinicius de Moraes. 

Algumas linhas num cartão ou até um soneto completo reproduzido em bonita folha de papel importado, junto com um chique bouquet de strelizias da Floricultura Rinaldi da praça de República, era infalível. Não como arma de sedução, em absoluto. Como um agrado.
Costumávamos também ler com avidez as crônicas e críticas de cinema, o que trouxesse sua assinatura. Vinicius era referência na área cultural e romântica para jovens brasileiros de então.
Quando aconteceu o espetáculo “Orfeu da Conceição” no Teatro Municipal do Rio, nós, de São Paulo, tivemos de nos contentar com o LP de 10 polegadas da Odeon com capa de Raimundo Nogueira e texto de Vinicius envolvendo as oito faixas.

 Era uma grande música brasileira para jovens, abria-se outra janela daquele Vinicius que conhecíamos como poeta, a da música popular. A grande novidade para as aspirações da juventude mais inquieta na música tinha duas palavras: Tom e Vinicius, ou Vinicius e Tom como manda a regra universal dos nomes dos autores, o do letrista em primeiro lugar.

Passam-se os tempos e surge “Canção do Amor Demais”. Aí pirei. Numa atitude enxerida de simples colunista de jazz na Folha da Noite, ousei escrever um artigo sob a forma de carta ao responsável por música popular no jornal. E foi publicado. Era uma apologia às canções do LP ponto de partida para a Bossa Nova. Nem parece, mas no ano que vem vai fazer 50 anos que isso aconteceu.
Cancioneiro Vinicius de Moraes Orfeu
Neste ano acaba de ser publicado um precioso documento sobre o poeta-diplomata-capitão-do-mato Vinicius de Moraes, um livro tão lindo quão valioso, na esteira de publicações do mais alto nível editorial brasileiro, isto é, no estilo dos não menos recomendáveis volumes que a Jobim Music /

 Instituto Antonio Carlos Jobim já lançou sobre Tom. Agora é a vez do Cancioneiro Vinicius de Moraes – Biografia e Obras Selecionadas.
No primeiro desses dois novos volumes há fotos, recortes, desenhos, cartazes, originais de poesias, trechos de correspondência pessoal, 
manuscritos de letras de canções corrigidas e um texto de Sergio Augusto, farto e impecável como os que trazem sua assinatura. Tudo cercado de poesia por todos os lados, daquilo que é o fundamento da moderna música popular brasileira. É o livro intitulado Biografia.
No segundo, Obras Selecionadas, estão as partituras corretas de dezenas de canções de uma das obras mais extensas da historia de nossa música. Vinicius teve parcerias invejáveis:

 Antonio Maria,

 Ary Barroso,

 Tom Jobim, 

Baden Powell, 

Carlos Lyra, 

Chico Buarque, 

Cláudio Santoro, 


Edu Lobo, 



Francis Hime,Garoto,









Hermano Silva, 

Moacir Santos,

 Paulinho Soledade,

                                                


















 Pixinguinha, Ernesto Nazareth e 

Toquinho. 

Em resumo: uma parte da fina flor da música brasileira. As partituras das 57 canções são entremeadas de desenhos ou aquarelas e completadas por uma discografia, além de esclarecedor texto sobre as fases dessa obra – em função das parcerias – fundamental para a materialização da música brasileira na modernidade.

A par da obra propriamente dita, a importância paralela de Vinicius no cenário da música popular se concretiza com o status que ele deu à atividade de letrista, até então meio desprezada exceto 

em casos excepcionais como o de Noel Rosa. Sendo ele um poeta de primeira linha parecia que, ao fazer letra de música, descia para uma segunda divisão da literatura, como chegou a ser considerado com certo desdém por algumas cabeças mais fechadas. Nem sempre, porém. Carlos Drummond de Andrade foi, como conta Sergio Augusto logo no inicio, dos que invejaram a atitude corajosa do poeta que assim veio a se tornar ao final de sua vida uma das personalidades mais marcantes na literatura bem como na música popular e na cultura de seu país.

Foi graças a ele que outros candidatos a letrista sentiram-se animados a seguir de vez o seu caminho, o que deu resultados auspiciosos ao cenário musical. Da mesma maneira, como Tom Jobim levantou o nível dos compositores, como João Gilberto foi determinante na decisão de jovens que se profissionalizaram na música popular, Vinicius exerceu por conseguinte papel fundamental para que letristas como Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc, Vitor Martins, Cacaso, Abel Silva, Hermínio Bello de Carvalho entre vários outros percebessem que essa atividade era uma profissão nobre na música brasileira. E assim foi.

Sua abertura em letrar melodias de garotos talentosos em quem pressentia um futuro, caso de Edu Lobo por exemplo, mostra como Vinicius tinha uma mentalidade aberta sem preconceito, outro mérito que é evidenciado nos 2 volumes do livro.

Vinicius, um artista estimado como poucos no Brasil já teve outros livros a seu respeito, re-edições de seus discos no formato de uma caixa e foi o tema de um belo filme documentário. Com esse livro, em 2 volumes, tem o mais amplo e rico trabalho editorial que se produziu sobre ele no Brasil."
 Ilustraçao Regina Bittencour/Imagens e vídeos
Centenário de Vinicius de Moraes

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