O prémio literário da Casa da América Latina distingue este ano o poeta Manoel de Barros. O decano da poesia brasileira não se desloca a Lisboa para receber o galardão, no valor de dez
euros, que será entregue nesta quinta-feira à filha. Mas o autor de Livro sobre Nada fez questão de agradecer com um poema inédito, que o PÚBLICO revela pela primeira vez
euros, que será entregue nesta quinta-feira à filha. Mas o autor de Livro sobre Nada fez questão de agradecer com um poema inédito, que o PÚBLICO revela pela primeira vez
POEMA INEDITO MANOEL DE BARROS
Fôssemos merecidos de água, de chão, de rãs, de árvores, de brisas e de graças!... Nossas palavras não tinham lugar marcado. A gente andava atoamente em nossas origens.
Só as pedras sabiam o formato do silêncio. A gente não queria significar, mas só cantar.
A gente só queria demais era mudar as feições da natureza. Tipo assim: Hoje eu vi um lagarto lamber as pernas da manhã. Ou tipo assim: Nós vimos uma formiga frondosa ajoelhada na pedra.
Aliás, depois de grandes a gente viu que o cu de uma formiga é mais importante para a humanidade do que a Bomba Atômica.
Só as pedras sabiam o formato do silêncio. A gente não queria significar, mas só cantar.
A gente só queria demais era mudar as feições da natureza. Tipo assim: Hoje eu vi um lagarto lamber as pernas da manhã. Ou tipo assim: Nós vimos uma formiga frondosa ajoelhada na pedra.
Aliás, depois de grandes a gente viu que o cu de uma formiga é mais importante para a humanidade do que a Bomba Atômica.
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